terça-feira, 17 de setembro de 2013

Policlínica de Picos e o desserviço de Kléber Eulálio


O prefeito picoense, Kléber Eulálio, do PMDB, é um homem de poder. Já o experimentou de diversas formas: deputado estadual por vários mandatos, presidente da Assembleia Legislativa, Secretário de Governo, governador interino do Estado e, agora, no comando do Executivo de Picos, cidade situada a 400 km ao sul de Teresina. Político experiente e conhecedor das artimanhas que a vida pública obriga incorporar, ele hoje pode ser reverenciado como sábio e sabichão. Responsável por ações positivas no seu leque mandatário, também protagonizou episódios lamentáveis. A cidade que Kléber hoje governa é, ironicamente, o testemunho vivo de uma de suas mais infelizes mazelas como representante do povo. A Policlínica – um empreendimento garantido por uma Organização Não Governamental da Alemanha, a ProBrasil, teve todas as oportunidades de instalação em Picos onde atenderia cerca de 400 mil pessoas daquela região, mas, infelizmente, estancou no poderio político que Eulálio acumulou ao longo de tantos anos em sucessivos mandatos.

A história é simples e fácil de ser contada. Quando os europeus decidiram implantar a Policlínica no sofrido sertão picoense, por volta de 2007, asseguraram milhões de euros para a edificação do portentoso complexo que agora segue sem rumo certo. Os doadores, entretanto, queriam contrapartidas do governo brasileiro na forma de equipamentos e cota de atendimento gratuito de 60% pelo SUS. Na época, Kléber era deputado estadual e Gil Paraibano comandava a prefeitura de Picos. Ambos, àquela altura, concordavam plenamente com a implantação do empreendimento, contudo, o consenso estava pautado muito menos na necessidade da população e bem mais em um arranjo político que os dois haviam feito no período: Kléber sairia candidato a deputado federal pelo PMDB em dobradinha com a sobrinha do prefeito e então secretária de saúde de Picos, Belê Medeiros, que buscaria uma cadeira no parlamento estadual. Parlamentares piauienses contam que os dois chegaram a viajar para a Europa por conta de dinheiro brasileiro e alemão, assinaram protocolo de intenções, enfim, deram substancial passo para que a região picoense fosse contemplada com um serviço de qualidade que contaria ainda com a parceria generosíssima dos germânicos. Mal voltaram ao Brasil, entretanto, pifou a coragem de Kléber para correr atrás de uma vaga na Câmara dos Deputados e, com isso, o acerto com Gil Paraibano desceu pelas raras águas do Rio Guaribas. Foi o estopim para uma inimizade de gato e rato entre os dois e, com isso, quem pagou o pato? A policlínica.    

Em front oposto ao de Gil, Kléber Eulálio se posicionou em favor dos donos de clínicas radiológicas que pertenciam a presidentes e ex-presidentes da APPM e, no alto de sua autoridade constituída, começou a criar uma série de empecilhos à Policlínica. Os proprietários dos tomógrafos privados bateram o pé contra a implantação do similar público que equiparia a estrutura, justificando que a legislação recomendava um destes aparelhos para cada grupo de 100 mil habitantes. A argumentação era pura balela, considerando que para inteirar o atendimento aos 400 mil piauienses que formam aquela regional de saúde - uma das mais numerosas do Piauí, havia apenas três aparelhos particulares de tomografia em Picos, portanto, ainda caberia mais uma máquina para atendimento público. A matemática não deixou de ser perfeita mas prevaleceu a imperfeição dos interesses políticos de quem tem mais poder que, sem dúvidas, pertencia e pertence a Kleber Eulálio.

Depois que assumiu a prefeitura de Picos, em 2013, Kléber Eulálio andou ensaiando uma midiática boa vontade de retomar as conversações em torno da Policlínica, entretanto, apontando soluções pífias para o que seria um mega complexo de saúde a serviço de muita gente pobre e necessitada. Ainda aliado aos interesses de seus amigos donos de clínicas, o prefeito chegou ao cúmulo de sugerir que a estrutura servisse como maternidade, contrariando completamente a meta de oferecer atendimentos de alta complexidade em diversas áreas médicas para aquela povoação marcada pela desassistência pública.  Passados todos estes anos de impasse, o prédio continua lá, esperando o bom senso dos brasileiros e merecendo a mais desprezível reação dos voluntários doadores estrangeiros que, com razão, devem estar se perguntando: que país é este?

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